.:o muro da dedé:.

:: diário de uma pós adolescente urbana:: feel free.



terça-feira, setembro 20, 2005

tentando ser clara, mas não consigo

Eu realmente não entendo como uma pessoa pode ser contra o desarmamento. Não estou aqui entrando no mérito da falta de discussão com a população, ou da falta de informação da mesma para que se coloque nas mãos desta a decisão de favor/contra. Sim, falta informação, falta discussão, muita gente não sabe e nem se liga no por quê de um plebiscito acontecer. Sim, eu acho também que a partir do momento que for proibido e muito mais difícil de se comprar uma arma, automaticamente o mercado paralelo vai crescer em 348934839842 %. Sim, quem tem arma e é visto como bandido (não curto usar esse termo, somos todos bandidos e mocinhos, não?) não tem porte legal de arma, eu sei. Na minha inocência, teimo em crer que o desarmamento pode vir a fazer uma diferença. Mínima, é verdade, já que, como disse acima, muitos dos tais bandidos disfarçados de coxinha continuarão usando de seus poderes brancos, milhares de pessoas continuarão a morrer por balas perdidas, tiroteios, guerras de tráfico etc. Mas é imperdoável alguém achar que para se sentir seguro, deve comprar uma arma. Um governo que apóia a venda de armas como a venda de doces encoraja, na minha singela opinião, que um cidadão realmente só venha a se sentir seguro se tiver uma em casa.

Infelizmente, eu tenho histórias próprias acerca do tema. Meu avô que não é meu avô de verdade sempre teve armas. Aqui e na fazenda. Nós, seus netos, brincávamos felizes e contentes, e muitas vezes achamos as armas dele. Sei também que uma criança que morre de acidente com arma é exceção, mas veja bem: a diferença está na mentalidade das pessoas. Impossível você deixar uma criança crescer achando que é certo e natural ter um objeto em sua casa que é capaz de tirar a vida de uma outra pessoa. Eu morria de medo dele por ele ter uma arma.

Outro dia, discutia com dois tios meus e minha avó sobre o desarmamento. Minha avó não se meteu muito no assunto, mas um dos meus tios defendeu com unhas e dentes seu porte de arma. Dizia ele que se alguém ameaçasse suas propriedades, ele não hesitaria em dar um tiro no safado. "Você sabe o que é ficar frente a frente com alguém que quer a sua terra?? Eu duvido que você não atiraria!". Não, eu não sei o que é, não tenho minha terra, e nem todos os brasileiros sabem o que é isso. E eu não tenho dúvidas de que, se todos tivessem seu pedaço de terra, não haveria motivo para invasão destas, e, consequentemente, o uso de armas nesse sentido seria em vão.

A questão é simples: impossível querer-se viver em um país menos violento, livre de injustiças sociais se pregamos a injustiça social. Claro, o desarmamento não vai acabar com a violência, quem tem essa ilusão é no mínimo ingênuo. Mas se ninguém der o 1o passo, como ficamos?